Samuel Schwarz nasceu em Zgierz (Polónia - Rússia) a 31 de Janeiro de 1880 - 12 de Fevereiro de 1880 segundo o calendário de Justiniano - e morreu em Lisboa a 10 de Junho de 1953.
Samuel, que o pai queria ver Rabino em Berlim, viajou aos 16 anos para Paris, cidade onde estudou na Escola Nacional de Artes Decorativas, entre 1896 e 1897, e entrou na Ecole Superieure Nacional de Mines.
Obteve a licenciatura em engenharia de minas em 1904, com 24 anos. Viveu e trabalhou em Paris entre 1896 e 1914, cidade onde residiu primeiro no número 60 e mais tarde no número 17 da Rue des Ecoles. A sua actividade profissional levou-o até diversos países.
Trabalhou como engenheiro em explorações petrolíferas em Baku (Cáucaso - Rússia), no Azerbaijão, em minas de carvão de Sosnowiec (Polónia), em Inglaterra, e entre 1907 e 1910 esteve em Espanha, nas minas de estanho que a empresa Arnoya Mining tinha em Conso (província de Ourense). Em 1911 trabalhou numa mina de ouro em Aldagna – Seia, Itália.
Contraiu matrimónio a 13 de Abril de 1914 em Odessa, na Ucrânia, com Agatha, filha do banqueiro Samuel Barbash.
Agatha nasceu a 15 de Abril de 1884, em Tulchin, perto de Odessa, e morreu em Lisboa a 4 de Agosto de 1950.
Samuel e Agatha viajaram em lua-de-mel até Portugal no Verão de 1914, tendo-se aqui fixado em consequência do início das hostilidades da I Grande Guerra Mundial. Residiram no número 19 da Praça do Município, em Lisboa.
Samuel começou a trabalhar como engenheiro em 1915, numa mina de volfrâmio em Vilar Formoso e noutra de estanho em Belmonte, ambas propriedade da Sociedade Minero-Metalúrgica de estanho e tungsténio da empresa do Casteleiro.
Foi presidente da Câmara de Comércio Polaca em Portugal desde a sua fundação em 1930 até a invasão da Polónia pela U.R.S.S., membro da Ordem dos Engenheiros, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, e Presidente da Assembleia Geral da Comunidade Israelita Lisboa.
Poliglota notável falava russo, inglês polaco, alemão, francês, italiano, espanhol, português, hebraico e "iídiche".
Em 1923 adquiriu o antigo edifício da Sinagoga de Tomar, um imóvel do século XV onde procedeu a trabalhos de escavação e limpeza, uma vez que o edifício havia sido anteriormente utilizado como prisão e armazém de cereais.
Em 1939 doou a sinagoga ao Estado português na condição de ali ser instalado um museu. Por decreto ministerial de 27 de Julho de1939, o museu foi fundado como "Museu Luso Hebraico Abraão Zacuto."
Samuel Schwarz obteve a nacionalidade Portuguesa em 1939.
Durante a II Segunda Grande Guerra Mundial perdeu quase toda a família que tinha permanecido na Polónia. Grande parte dela passou pelo guetto de Varsóvia.
Em Novembro de 1939, Samuel pediu a Salazar um visto para o irmão Aleksander, que se tinha refugiado em Estocolmo depois de ter sido preso pelos soviéticos. O visto foi recusado mas isso não impediu Aleksander e a família de chegarem a Portugal em Maio de 1940, entre os judeus a quem o diplomata português Aristides de Sousa Mendes concedeu vistos.
Após o estabelecimento do Estado de Israel, em Maio de 1948, Samuel publicou no jornal "Diário de Lisboa", em 14 de Março de 1949, um texto no qual convidava o Governo de Portugal a reconhecer o Estado de Israel.
Entre 1923 e 1953 publicou, entre outros trabalhos: “Inscrições Hebraicas em Portugal” (in Arqueologia e História, 1923), “Cristãos Novos em Portugal no Século XX” (1925), “Museu Luso-Hebraico de Tomar” (1939), “Cântico dos Cânticos” - tradução do original hebraico, (1942), “Anti-semitismo” (em colaboração com Leon Litwinski, 1944), e “Arqueologia Mineira” (brochura publicada pela Direcção-Geral de Minas em 1936).
O livro “Cristãos Novos em Portugal no século XX” teve um impacto considerável na comunidade judaica a nível mundial e foi traduzido em Inglês, italiano e hebraico. Neste livro, Samuel Schwarz escreve sobre os cristãos-novos de Belmonte e conta como era difícil conquistar a sua confiança. Relata ter descoberto que eram as mulheres quem salvaguardava as tradições e sabiam de cor as orações.
“Então soubemos que são sobretudo as mulheres, principalmente as mais idosas, que conhecem de cor todas as orações judaicas e as dizem, presidindo às reuniões e cerimónias religiosas. As pobres criaturas nunca tinham ouvido falar da língua hebraica nem sabiam que existia.”
Schwarz só conseguiu ser admitido na comunidade dos cristãos-novos de Belmonte quando numa nova tentativa para os convencer sobre as suas origens, e de que eles faziam parte do povo judeu, quando uma anciã lhe pediu para dizer uma oração na língua que ele afirmava ser a dos judeus.
Samuel Schwarz escolheu a oração Shemah Israel "Ouve, ó Israel." Cada vez que ele pronunciava a palavra "Adonai" ("Senhor") as mulheres tapavam os olhos com as mãos: quando terminei - escreve Schwarz – a anciã virou-se para as que a cercavam e anunciou em tom de grande autoridade: “É realmente Judeu porque pronunciou o nome de Adonai.”
A edição em Português foi reeditada em 1993, pelo Instituto de Etnologia e Sociologia das Religiões da Universidade Nova de Lisboa, e de novo em Outubro de 2010, pela editora Cotovia.
O livro teve nova tradução para o hebraico em 2005, pela Universidade Hebraica de Jerusalém. A edição francesa está em curso a partir de um manuscrito em francês pelo punho do próprio Samuel Schwarz. O prefácio da versão francesa é da autoria de Israel Levi, rabino-chefe de Paris.
Na revista Ver e Crer publicou “O sionismo no reinado de D. João III, ” “A Origem do nome e da lenda do Preste João”, “Quem eram os mensageiros que D. João II mandou em busca do Preste João” (respectivamente nos n.ºs 11, 14 e 17 do ano de 1946).
Na Revista da Câmara Municipal de Lisboa publicou “A Tomada de Lisboa,” “A Sinagoga de Alfama” (respectivamente no nº 55, de 1952 e no nº 56, de 1953). A “História da Comunidade Judaica Moderna de Lisboa” foi publicada na revista Instituto da Universidade de Coimbra (nº s 119 e 120, de 1957 e 1958).
Samuel Schwarz trabalhou para vários jornais, tendo escrito diversos artigos sobre temas relativos ao judaísmo, principalmente no “Jornal de Comercio” e no “Diário de Noticias”. Respondeu regularmente aos artigos anti-semitas publicados na imprensa, principalmente no jornal "A Voz."
Durante a sua permanência em Espanha publicou vários artigos no Boletim da Academia Galega, e na revista Estafla-Nueva de Madrid.
Em 25 de Maio de 1953, a cidade de Belmonte tomou a iniciativa de celebrar o trabalho de Samuel Schwarz e, em Janeiro de 2008, o Museu Judaico de Belmonte inaugurou uma sala em sua homenagem.
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