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Marranos újjászületése

(publicado em 1929[1])

Engenheiro Samuel Schwarz

Ainda não chegou a hora de escrever a história completa das origens dos marranos de Portugal.

O incrível trabalho de difusão do conhecimento sobre os marranos de Portugal começou há três anos sob a liderança do ex-marrano, capitão Barros Basto no Porto e sob a égide do Comité Pro-marrano em Londres (1926). Este trabalho tem vindo à avançar, ainda que em silêncio e devagar. 

Depois de três séculos do cristianismo obrigatório, imposto pelo fogo, silêncio e terror da Inquisição e dos Autos-da-Fé (a falta de declaração de fé no cristianismo, era punível com ser queimado na fogueira), não é surpreendente que, desde o século 15, a informação sobre a alma, o carácter e as tradições ancestrais dos marranos de Portugal se tenha mantido  escondida.

A historia foi diferente em Espanha. Lá, todos os vestígios de Marranos ou cripto-judaísmo desapareceram. Quando num canto isolado da ilha de Maiorca aparece um vestígio de descendentes de marranos (insultuosamente chamados "Chuetos"), é mais provável que sob uma cobertura  de prática católica, vestígios de fé e tradição judaica surjam.

Esta diferença na história dos marranos, nos dois países adjacentes da península  Ibérica, tem uma base histórica.

Em Espanha  o édito de 1492 que conduziu a expulsão forçada dos judeus, levou ao êxodo de cerca de 300,000 judeus num período de três meses. E depois destes muitos outros saíram com o resultado que a Inquisição levou os judeus para a Holanda, Itália, Inglaterra, Turquia países onde eles podiam praticar abertamente a fé de seus antepassados. Alguns ficaram (os chamados Marranos) mas foram perseguidos pelos tentáculos da Inquisição e, no final, tiveram que aceitar a fé católica e assumir a prática do cristianismo.

Foi diferente em Portugal. O édito de 1496 não resultou numa expulsão dos judeus. O Rei Dom Manuel assinou o édito contra a sua vontade, forçado a isso pela Casa Real Espanhola, que de outra forma não iria concordar com seu casamento com a princesa espanhola, Isabel.

O rei de Portugal, Dom Manuel, tendo constatado o desfecho económico fatal resultante da expulsão maciça dos judeus de Espanha, não permitiu a emigração dos judeus de Portugal, voltando-se para outros métodos obrigatórios de conversão ao catolicismo, como por exemplo, confiscar o seu dinheiro, obrigar ao baptismo de crianças pequenas e, em seguida, dos adultos, da maneira mais bárbara que se possa imaginar. Devido a isso, a maioria dos judeus de Portugal permaneceram no país, criando uma massa de Judeus-Marranos fieis ao credo de Moisés. Os descendentes destes marranos são hoje os cripto-judeus de Portugal.

Nos 300 anos que durou o “reinado” da Inquisição, da tortura, e dos Autos-da-Fé os marranos de Portugal que mantiveram a fé de seus pais, viveram debaixo de uma ameaça permanente. Apenas um pequeno numero conseguiu escapar às garras da Inquisição e sobreviveu até a abolição  da Inquisição em 1821. Este punhado de homens foi capaz de preservar as suas tradições e o orgulho da sua ascendência.

Já em 1750 a Inquisição foi, na realidade, privada do seu poder graças à mão de ferro do estadista excepcional Português, o seu primeiro-ministro liberal, o Marquês de Pombal, também conhecido em Portugal como o reconstrutor de Lisboa após o terramoto de 1755, e como a pessoa responsável pela expulsão da ordem religiosa dos jesuítas. O Marquês de Pombal pôs em prática leis excepcionais pró-judaicas (cristãos-novos ou seja Marranos), refreou a Inquisição, acabou com o direito de instituir Autos-da-Fé, convertendo os procedimentos para formas mais usuais de perseguição de hereges.

Durante o período que antecede o fim da Inquisição, teve lugar o  início de renascimento entre os judeus de Portugal. A mais antiga inscrição em hebraico foi encontrado no túmulo de José Amzalaga no cemitério britânico em Lisboa, em 1804.

Com o tempo, uma nova comunidade de cripto-judeus começou a tomar forma. O viajante britânico judeu, Israel Salomão, que viveu em Lisboa em 1819, escreve sobre a sua história (Registos da minha família, New York, (1878), (http://www.jewishgen.org/jcr-uk/Susser/israelsolomonstory.htm onde a data é 1887) e Frank J. Schechter no seu artigo (um aspecto desconhecido da História Anglo-judaica, publicado pela American Jewish Historical Society Vol. 25. pp.63-74, (http://www.archive.org/stream/no25americanjewi00ameruoft/no25americanjewi00ameruoft_djvu.txt ) deixaram-nos descrições deste redespertar da vida judaica no Portugal da época.

Vale a pena notar a história de um judeu polaco, Philip Samuel de Varsóvia, descrito por Israel Salomão. Philip Samuel era filho do secretário da Grande Sinagoga de Varsóvia. Ele era um judeu muito religioso e um rico comerciante que negociava seda importada de Gdansk (Dantzig). Nas suas viagens para Gdansk, ia sempre com uma comitiva que o ajudava com os costumes “kosher “e para constituir um “minyan” (quórum de dez homens adultos), com quem ele podia praticar a oração comunitária. Quando, certa vez, o Sr. Samuel não foi capaz de trazer consigo os seus companheiros de viagem e, portanto, não pode formar um “minyan”, foi denunciado pelo rabino. Teve que deixar a Polónia e fez caminho até Portugal.

No caminho, a bordo do navio, Samuel cortou a sua bonita barba preta (a marca do judaísmo na época), preocupado com a eventual reacção da população Portuguesa. Isso foi em 1819, e o Sr. Salomão diz que o Sr. Samuel mais tarde se arrependeu de ter feito a barba porque ele descobriu que havia tantos judeus que aparentemente observavam práticas cristãs, mas que em privado, se mantinham fieis à tradição e à fé judaicas. Samuel foi capaz de forjar contactos muito estreitos com as famílias Marranas nas províncias, bem como em Lisboa. O Sr. Samuel foi a primeira pessoa a descrever a vida judaica no Portugal da época e a comunicá-la ao autor (israel Salomão).

Devido a isso, a honra de ser o primeiro a revelar a existência dos marranos de Portugal pertence ao judeu polaco, Philip Samuel. E para mim um orgulho, cem anos mais tarde, ser capaz de continuar o trabalho de um conterrâneo e de um homónimo.

O período do regime liberal em Portugal foi, infelizmente, cada vez mais destrutivo para os marranos de Portugal. Sob a influência da democracia, encontramos uma assimilação cada vez maior e uma degeneração do marranismo Português com o resultado que, em algumas localidades como Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu, etc., o Judaísmo escondido já praticamente desapareceu.

Só na província, em cidades perto da borda das montanhas do Norte, onde o liberalismo não tinha atingido a consciência pública, ai permaneceram escondidos centros de marranos até ao final do século XIX. Infelizmente, mesmo ali a praga dos casamentos mistos, bem como os tempos incertos do seguimento da criação da República de Portugal, em 1910, tiveram consequências muitas serias para os marranos.

Em 1915, tive a sorte de descobrir um centro marrano na pequena aldeia de montanha de Belmonte, na província Castelo-Branco. Os resultados destes estudos foram publicados (Samuel Schwarz. Os Cristãos-novos em Portugal no Século XX, Lisboa 1925). Este trabalho espalhou-se rapidamente pelo  mundo judaico e  fez avançar a causa dos marranos no seio das comunidades judaicas.

Em 1926, um famoso historiador e político, Lucien Wolf, apoiado pela Associação anglo-judaica e pela Alliance Universelle israelita, chegou a Portugal. Wolf publicou suas observações em vários relatórios (Lucien Wolf. Relatório sobre a "marranos" ou cripto-judeus de Portugal: Apresentado ao israelita Alliance Universelle e do Conselho da Associação Anglo-Jewish, Março 1926) e isso levou à criação do Comité Pró-marrano em Londres. O renascimento dos marranos de Portugal começou sob os auspícios desta Comissão.

Porto, a capital do Norte de Portugal, foi escolhida como o centro de propaganda judaica para os marranos. Graças à incansável propaganda, o jovem convertido ex-Marrano, o capitão Artur Barros Basto abriu um pequeno mas oficial Centro Comunitário judaico no Porto, que tem vindo a crescer numericamente e materialmente através de novos grupos de convertidos e através do apoio do Comité Pro-marrano de Londres.

Uma esplêndida sinagoga está a ser estabelecida no Porto, servindo como um ponto de encontro cultural para os marranos do norte de Portugal. Um periódico mensal Português surgiu em 1927, sob o nome hebraico Ha Lapid (A Tocha), sob a responsabilidade do mesmo Capitão Barros Basto, cujo objectivo é difundir a ideia de renascimento entre os marranos. Exemplos de orações a praticar na sinagoga, foram publicados, bem como folhetos relativos à organização da liturgia judaica e dos festas religiosas judaicas. O primeiro Centro Comunitário puramente Marrano foi criado na antiga cidade de Bragança a norte de Portugal. Seguiram-se ainda mais Centros Comunitários oficiais em cidades no centro de Portugal, como Chaves, Mogadouro, Covilhã e assim por diante. 

O renascimento judaico entre os Marranos Portugueses está a avançar e nada poderá impedir que ele continue a progredir.

Uma necessidade central é educar as crianças e proporcionar-lhes uma educação judaica; escolas e internatos judaicos  locais para os filhos dos Marranos precisam de ser estabelecidos, a opinião pública judaica, além disso, deve ficar em guarda contra a praga da assimilação e casamentos mistos.

O ponto culminante da tarefa do despertar do pensamento judaico entre os Marranos será a criação de instituições que possam manter a tradição judaica nas suas almas. E esta a única maneira de proteger contra o perigo de completa assimilação das novas gerações de marranos. A juventude Marrana convida a comunidade judaica mundial  a ajudar este renascimento. 

Escuta, O Israel

Samuel Schwarz

Lisboa 1929



[1] Traduzido do polaco para inglês, em Outubro de 2006, por Maria Szwarc Violetta Seeman sobrinha de Samuel Schwarz. Com amor e gratidão para com o erudito maravilhoso que era o meu tio. Ele apoiou os seus pais, educou os seus irmãos e salvou tantos membros da família do Holocausto nazista, a Inquisição do Século XX.

Traduzido do inglês para português, em 2012, por João Schwarz

 

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